Blog do Abud

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Local: Taboão-Ribeirão, SP, Brazil

Bebo, não nego, e pararei quando puder.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Adeus Marta

Adeus Marta
Adeus reveillon na Paulista.
Adeus aniversário de São Paulo.
Adeus Parada Gay.
Adeus sossego dos gays que voltarão a ser mortos, 3 ou 4 porsemana.
Adeus bilhete único.
Adeus passa-rápidos, aquela linha reta rumo direto ao horizonte.
Adeus CEUS iluminados.
Adeus crianças nadando nas piscinas.
Adeus baile de hip-hop.
Adeus pistas de skate.
Adeus uniformes coloridos, adeus alegria escancarada, adeuscambalhota.
É preciso ser austero, é preciso ser sombrio, precisamos de remédio.
Adeus Oficina Boracéia. Adeus canil pros cachorrinhos, capelinhapra rezar, adeus Páteo do Colégio, adeus azul colonial, adeus GaleriaOlido, adeus AURORA, adeus praças e jardins bem cuidadas.
Adeus Mercado Municipal, adeus restaurantes do mezanino, adeusmezanino, adeus café concerto.
Adeus Vale do Anhangabaú, TeatroMunicipal.
Adeus prefeitos do mundo inteiro, que nunca mais virão aqui.
Adeus ônibus novos, adeus aos que têm ar condicionado,
AdeusMarta.
Adeus sub-prefeituras, adeus projetos culturais, adeus psicodramado Centro Cultural, adeus cinemas do CEU, Adeus teatro no CEU,adeus caderno e lápis, uva e batata frita.
Adeus felicidade anunciada.
Adeus coleta de lixo de porta em porta nas favelas.
Adeus Favela doGATO, adeus madrugada.
Adeus big-bands do CEU, adeus projeto de fomento ao teatro, adeusescritor nas bibliotecas,adeus pitbuls com focinheiras, adeusavenidas de asfalto parecendo um tapete, como disse um motorista deônibus de Itaquera.
Adeus crianças indo de ônibus para as aulas.Andar 3 quilômetros pra ir pra escola faz bem pra elas.
E viva o esparadrapo e a aspirina, a que o nosso desejo ficoureduzido.
É tudo de que precisamos.
O resto é pirotecnia eleitoral.
Dizem que a gente só dá valor pras coisas, quando perde e nósprecisamos sofrer mais um pouco.
Precisamos acreditar que a vida é assim mesmo.
Que as coisas não têm solução.
Que pobre é pobre, desde o início dos tempos.
Que pobre e criança não têm querer.
Precisamos tanto de esparadrapo e aspirina, que qualquer coisaamais, vai nos prejudicar.
Precisamos daquela coisa redondinha e branquinha, que vai curarnossas dores interiores, que vai nos tirar do enfado de viver uma vidamal vivida, que vai nos fazer esquecer que já não amamos osmaridos, que já nem temos mais ouvidos pra ouvir Chico Buarquedizer que, naquela noite ele chegou tão diferente do jeito quecostumava chegar.
Precisamos esquecer a dor, Marta Suplicy, de não saber mais amar.
Precisamos de aspirina.
É isso que o Serra vai nos dar.

Sylvia Manzano